Ivonildo Lavor
05 Out 2009 - 12h16min
http://opovo.uol.com.br/opovo/colunas/embarque/916186.html

É correto utilizar as dunas do litoral cearense para a implantação de usinas eólicas?

Alguns setores da sociedade cearense estão começando a questionar, não só a quantidade, mas a localização dos aerogeradores instalados nas dunas do litoral cearense, em função das usinas eólicas.

O debate no momento está mais relacionado ao impacto do meio ambiente. Mas é oportuno incluir, também, a questão turística nesse contexto.

O professor Jeovah Meireles, do departamento de geografia da UFC, através do artigo ‘Usinas devoradoras das dunas’, publicado semana passada no O POVO, levantou a questão, ao ressaltar os impactos ambientais e sociais negativos que as usinas eólicas instaladas ao longo do litoral cearense estão causando.

Segundo diz o geógrafo, toda a área ocupada pelos aerogeradores é degradada com terraplenagem, desmatamento e compactação além de alterar a morfologia, a topografia e a fisionomia do campo de dunas. E mais: para a manutenção das usinas eólicas é necessário uma rede de vias de acesso, para cada um dos aerogeradores, para resguardar as bases estruturais das torres.

Como mostra o professore Jeovah Meireles, as dunas representam reservas estratégicas de água, paisagens e ecossistemas, além de serem de interesse direto dos turistas que vêm conhecer paisagens únicas do nosso litoral. Com a industrialização das dunas, a degradação está alcançando osmanguezais, praias e margens dos estuários. Além disso, está mudando a paisagem natural das dunas do ceará. Isso pode ser visto no Beach Park, em Camocim ou em Beberibe.

Assim como o professor Jeovah Meireles, nós também achamos que a produção de energia eólica, em função das consequências previstas pelo aquecimento global, é fundamental para gerar desenvolvimento por meios de novas alternativas energéticas. Mas, que isso ocorra sem degradar o meio ambiente, e nem interferir no aspecto natural da nossa paisagem, causando artificialização e deformação do visual das dunas.

É necessário, e muito urgente, que seja definida o quanto antes áreas mais adequadas para abrigar esses projetos de energia no Ceará. Especialistas no setor, com quem conversamos, sugeriram a região de Quixadá que, em função dos monólitos, possui zona de alta e baixa pressão, o que eleva a velocidade dos ventos. O que importa é que o Governo do Estado comece a se preocupar com esse problema.

Seria oportuno também que a Secretaria do Turismo do Ceará (Setur) se engajasse na defesa do ecosistema e do visual natural das nossas dunas, que estão sendo descaracterizadas, inclusive com o soterramento das lagoas entre elas, causando impactos ambientais irreparáveis . Os parques eólicos estão se avolumando de forma descontrolada, como disse o professor Jeovah Meireles. Por isso, está na hora de encontrar outros locais com potencial eólico no Estado, e deixar de interferir na paisagem natural das dunas, que também é fonte geradora de energia para o turismo do nosso estado.

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