Energia Eólica: lobo travestido de cordeiro?

Energia Eólica: lobo travestido de cordeiro? Após o “descobrimento” do aquecimento global, o meio ambiente têm ocupado crescente espaço em nossas vidas. Isso levou muitos termos da ecologia e das ciências ambientais a serem utilizados de forma indiscriminada pela mídia, políticos e empresários. Exemplos clássicos são exatamente as expressões “energias limpas” e “energias renováveis”, considerados por muitas pessoas como sinônimos. O primeiro diz respeito a fontes energéticas que produzem pouco ou nenhum poluente durante seu processo de geração. O segundo leva em conta apenas a disponibilidade ou taxa de renovação da fonte energética (se compatível ou não com a escala temporal humana). Frequentemente as pessoas associam esses dois conceitos acreditando que energias renováveis são limpas e vice-versa. No entanto, podemos pagar um preço caro por essa questão aparentemente insignificante, pois energias renováveis não são necessariamente limpas (apesar de a recíproca geralmente ser verdadeira). Um grande exemplo é a energia eólica, que é vista como uma das energias salvadoras do planeta, mas em uma análise detalhada pode se revelar como grande vilã para o aquecimento global. Essa forma de geração de energia se encontra em franco processo de expansão em todo o mundo. No Ceará, até faz parte da política energética do Governo do Estado. No entanto, existem sutis detalhes de sua logística que, na opinião de alguns cientistas, como James Lovelock, colocam em xeque sua real contribuição para o enfrentamento do aquecimento global. Primeiramente, o funcionamento das turbinas depende da força do vento. Quando o vento é fraco, elas não funcionam em plena potência, e quando ele não é suficiente para rodar as hélices, não há produção de energia. No litoral do nordeste, uma das regiões de maior potencial eólico, as turbinas funcionam em plena capacidade em não mais que 60% do tempo (a média mundial é de 30%). Isso significa que, no resto do tempo, para manter o abastecimento de energia constante que precisamos, são necessárias fontes suplementares tradicionais de energia (combustíveis fósseis e hidrelétricas). O outro detalhe diz respeito à eficiência financeira e espacial (área utilizada) para geração de energia. Apesar de possuir tarifas energéticas equivalentes a outras fontes de energia (devido a subsídios governamentais), os custos para geração da energia eólica podem ser até três vezes maiores que a energia nuclear. Em termos espaciais a energia eólica é uma das formas de geração de energia que requer maior extensão territorial. A geração de 1 Gigawatt de energia elétrica a partir do gás natural requer 5 hectares; a partir de energia nuclear, cerca de 10 hectares. Segundo dados da ANEEL, no Brasil, para gerar a mesma quantidade de energia, um parque eólico precisa de 80 a 4.000 hectares. A não ser que o parque eólico seja instalado no mar ou em um deserto, provocará o desmatamento (e respectivas emissões) de uma área que poderia estar contribuindo para a captura de carbono. Além disso, a demanda por extensas áreas gera conflitos territoriais. No caso específico do Ceará, a instalação de parques eólicos no litoral tem causado grande insatisfação entre comunidades de pescadores e marisqueiros, que muitas vezes são impedidos de circular em suas redondezas. Não pretendo que o leitor crie aversão à energia eólica, mas apenas que tenha consciência de seus aspectos negativos (muitas vezes ignorados) e também os leve em conta para se posicionar em relação ao tema. Nenhuma forma de geração de energia é absolutamente limpa: certo grau de impacto ambiental é inevitável para qualquer que seja a fonte. A energia eólica tem grande valor, mas não é a panacéia contra o aquecimento global, como algumas pessoas colocam. Ela tem impactos negativos e sua instalação indiscriminada em todo o mundo pode atrapalhar mais do que ajudar no enfrentamento das mudanças climáticas globais. O aquecimento global ameaça reduzir as áreas agricultáveis. Com essa ameaça temos que balancear nossas fontes de energia do modo mais eficiente possível para conciliar a geração de energia com outras necessidades. FONTE: http://www.semiarido.org.br/artigos-show/81/0/marcelo-teles

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