Ceará tem 23,9 mil quilombolas, aponta mapeamento inédito do Censo 2022
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Ceará tem 23,9 mil quilombolas, aponta mapeamento inédito do Censo 2022
Com a 10ª maior população desse grupo étnico-racial, o Ceará tem quilombolas em 67 cidades. Pela 1ª vez na história, o Censo incluiu a identificação específica desses habitantes.
Um levantamento inédito, realizado no Censo Demográfico de 2022, faz com que o Brasil, agora, tenha informações oficiais sobre sua real população quilombola. São 1,3 milhão de habitantes desse grupo de pessoas no país. Os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (27), indicam ainda que o Ceará, com 23,9 mil quilombolas, tem a 10ª maior população desse grupo entre os estados brasileiros.
Os quilombolas, conforme a legislação brasileira, são grupos étnico-raciais autodeclarados, que têm ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida por essa população no país e mantêm relações territoriais específicas.
No Censo Demográfico 2022, foram recenseados no Brasil 1.327.802 pessoas quilombolas em 24 estados e no Distrito Federal. Apenas o Acre e Roraima não têm a presença de quilombolas.
No Ceará, segundo o Censo 2022, há quilombolas em 67 cidades, incluindo Fortaleza. Mas, isso não quer dizer necessariamente que as pessoas autodeclaradas quilombolas vivem exatamente todas em territórios quilombolas oficialmente delimitados.
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O Censo aponta ainda que a população quilombola cearense representa 1,80% do total desse grupo populacional no país. Já a Bahia, concentra 29,90% desta população, com o maior número de quilombolas no país. No território baiano são 397.059 quilombolas, em seguida tem Maranhão (269.074), Minas Gerais (135.310), Pará (135. 033) e Pernambuco (78.827).
Quando a distribuição por Região, o Nordeste com 905 mil quilombolas tem 68,20% desta população no país, seguido do Sudeste com 182 mil quilombolas (13,70%); Norte, com 166 mil (12,50%); Centro-Oeste, com 44,9 mil; e Sul com 29 mil quilombolas (3,40%).
REGISTRO INÉDITO
Apesar da relevância social, cultural e política da coleta desse tipo de dado, até a mais recente edição do Censo, o IBGE não tinha um levantamento oficial sobre o tamanho e as características básicas dessa população que, somente agora, “existe” oficialmente no maior levantamento demográfico no país, realizado a cada 10 anos.
O critério definido pelo IBGE para a identificação da população quilombola, conforme estabelecido pela legislação brasileira, foi a autodeclaração no momento da coleta de dados pelo recenseador.
Nos territórios quilombolas, após a pergunta sobre a “cor ou raça”, independentemente da resposta, a próxima pergunta foi “você se considera quilombola?”.
Quando a resposta foi sim, o questionário continha outra pergunta: “qual o nome da sua comunidade?”. Na resposta já havia uma lista de comunidades pré-registradas no aplicativo usado pelo recenseador, mas era possível acrescentar nomes que não estavam gravados.
O historiador quilombola, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), João Luís Joventino do Nascimento, o João do Cumbe, morador da comunidade Quilombola do Cumbe, em Aracati, destaca que o Ceará é conhecido nacionalmente por em 25 de março de 1884, o município de Redenção ter sido a primeira província brasileira a libertar os negros escravizados, mas a partir dessa data, diz ele, “nós, os quilombolas, na historiografia passamos a não existir”.
“Pela primeira vez foi feita a contagem da população quilombola para desconstruir ideias que ainda persistem, como a falácia de que não existem quilombolas no Brasil. O Censo vem em um momento interessante para a luta quilombola porque acreditamos que com os resultados vamos ter políticas públicas voltadas especificamente para a demanda da população quilombola no que tange a educação, a saúde, a moradia, a questão da regularização fundiária e a assistência social”.JOÃO DO CUMBEHistoriador e quilombola
Ele reforça que, a partir do resultado do Censo, governos de todas as esferas vão ter dados concretos para investirem em políticas públicas, sendo uma das maiores demandas no Ceará, a regularização dos territórios quilombolas. Nesse quesito, reforça ele, “se compararmos a situação do Ceará com a dos outros estados, vamos ver que estamos muito atrasados”.
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