Obras do parque eólico danificam igreja no Cumbe

Obras para o parque eólico em Aracati estão comprometendo igreja na comunidade de Cumbe

Católicos da Vila do Cumbe estão preocupados com a preservação da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim

Aracati. A instalação das turbinas eólicas no Litoral de Aracati, que desde o ano passado mudou a rotina das comunidades costeiras e do próprio cenário ambiental – a instalação das turbinas em cima das dunas – dessa vez está comprometendo prédios na comunidade de Vila do Cumbe, a 12km do centro do município. O intenso fluxo de veículos pesados por todo o dia está comprometendo a estrutura da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Dentro e fora, as paredes apresentam rachaduras, assim como o teto. Dezenas de caminhões passam por hora em frente à igreja, que ainda convive, a 10 metros dos fundos, com o canteiro de obras da Bons Ventos Eólica. A empresa assegurou à comunidade que tomará providência para desviar o trajeto dos caminhões e evitar maiores comprometimentos à igreja, que deverá ser por ela restaurada no que for preciso.

São dezenas de turbinas eólicas instaladas por diferentes empresas nacionais em parceria com multinacionais, ocupando áreas na região das dunas no litoral de Aracati. O potencial de produção de energia eólica no Ceará é 19 vezes maior que o potencial assegurado pelas novas usinas em Aracati, elevando a capacidade eólica instalada para 500 megawatts. Até junho de 2009, o Ceará deverá ter o maior potencial eólico já instalado no País. O porém disso tudo é que a energia limpa e renovável não deixou de mudar a rotina de localidades como Canoa Quebrada, Estevão e Cumbe, em Aracati, no Litoral Leste.

A chegada das empresas e de suas toneladas de equipamentos de aço interferiram na rotina dos moradores, que várias vezes realizaram protestos, sob o medo de que a fiação elétrica ocupasse áreas pertencentes às comunidades. Na Vila do Cumbe, a 12km de Aracati e próximo ao litoral de Canoa Quebrada, as 145 famílias, a sua maioria de católicos, estão preocupadas com o andamento das missas dos fins de semana. A próxima será na manhã do próximo dia 30. Conforme o professor João Luis Joventino, basta se aproximar da igreja e logo se vê as rachaduras. “Os carros passam perto demais, transportando matéria muito pesada, ficam o dia todo. Tem rachadura em vários cantos da nossa igreja”, reclamou.

A Igreja de Nosso Senhor do Bonfim foi concluída em 1947, sendo o quarto templo religioso da comunidade — as outras três foram destruídas com o tempo e pela falta de reparos. João Luis diz que a comunidade teme perder a igreja. Perto do templo e do transtorno causado pelo movimento industrial, mora José Corrêa, presidente do Museu Jaguaribano, um prédio histórico do centro de Aracati tombado e restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan). Corrêa vê todos os dias mais de 60 caminhões passarem perto de sua casa e da igreja, fazendo várias viagens de ida e volta, aumentando a poeira, o barulho e a tremedeira na pequena Vila do Cumbe.

Moradores ouvidos pela reportagem alegam que, se o problema não for resolvido logo, antes que sejam comprometidas as missas na igrejinha de Nosso Senhor do Bonfim, de 61 anos, farão protestos.

Segurança
De acordo com Assessoria de Relações Públicas da Bons Ventos Energia Eólica, o engenheiro responsável pela obra já esteve no local e informou que vai ser possível mudar o trajeto dos caminhões para evitar mais danos à comunidade e à igreja.

O prazo estabelecido é até o fim desta semana. “Vai dar uma margem maior de segurança aos moradores. A Igreja, como data do século XIX, já tinha rachaduras. Mas se agravou com a passagem dos caminhões”, diz a Assessoria. Para solicitar o desvio, foi preciso autorização do Departamento de Edificações e Rodovias (DER) e fiscal da obra, conforme a empresa. “Foi feito um relatório juntamente com o pedido da ação corretiva das rachaduras. A empresa Bons Ventos se preocupa com essas situações, para evitar danos às pessoas do entorno do projeto”, completa.

MELQUÍADES JÚNIOR
Colaborador

CATÓLICOS
145 famílias vivem na Vila do Cumbe, a 12km da sede de Aracati, sendo a maioria de pessoas católicas que se preocupam com a preservação da igreja na comunidade

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=593285 (27/11/2008)

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