10 anos da Organização Popular - OPA
10 anos de Organização Popular - OPA
Não passávamos de oito pessoas; doze,
no máximo. Cabeças diferentes, mas uma pulsante vontade comum: o velho
sentimento de mudar o mundo. Éramos o novo nascendo, mas não éramos novidade.
Éramos o novo, mais uma vez, de novo. Não sabíamos ao certo aonde ir, porque em
tempos de convicções surradas, a energia que sobrava só dava para manter acesa
a luz vermelha de alerta: por determinados caminhos não se deve seguir, de
jeito nenhum! A incerteza como suspiro da esperança. E assim fomos.
Fomos porque nunca é tempo de parar.
Porque não parar será sempre o que haverá de mais novo na vontade de continuar.
Fomos para reinventar, e reinventamos para poder não estancar. O movimento é
reinvento que reinventa o movimentar.
Não sei qual a fonte dos milagres,
mas esse veio da mistura de beco sem saída com reunião. Numa época em que o
distanciamento do povo por parte de esquerdas armadilhadas pela
institucionalidade opressora produzia traições em escala industrial, eram
militantes de base que se reunião naquela casa simples de pescador. Alguns
abatidos, é verdade. Também pudera! A coisa se invertera a tal ponto, que o
trabalho de base, não servisse ele à politicagem, era encarado como ameaça. Logo,
aquela turma, que adoecia se não tivesse “sovaco com sovaco” com o povo, fora atingida
duramente. Para não parar, nos agarramos a muletas. Mas naquele momento braços
e abraços passaram novamente a nos sustentar. E o abatimento se fez batimento
de corações acelerados. “Se temos causas e inimigos comuns, não tem sentido lutarmos
separados.” Os milagres então se sucederam. O Sem Terra se fez padre, a
pecadora se descobriu freira, o apicultor começou a falar em revolução e a agir,
o jovem assumiu responsabilidade de gente grande, a pescadora teve seu saber
reconhecido como ciência e Jesus e Marx, enfim, se reencontraram, e celebraram a
reunião como antigos e bons camaradas.
Naquela casa simples daquele quilombo
– sim, a OPA nasce de uma comunidade quilombola! –, em meio aos sucessivos
milagres, descobrimos que éramos bem mais do que oito ou doze pessoas. Somos
palmares, somos arco e flecha apontados contra o inimigo colonizador, somos Sem
Terra, Sem Teto, pequenos agricultores, operários destruindo a mais-valia,
somos periferia, LGBT, mulher, juventude, somos a floresta em ofensiva contra o
vírus capitalista!
No dia 10 de abril de 2010, orixás
também se reuniram e abençoaram o pequeno grupo de militantes. “Semeiem! Estaremos
juntos enquanto estiverem do lado certo”, e foi tudo o que disseram.
Amém! Axé! Auerê! Aleluia!
Thales Emmanuel
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