Cordel: A Briga Pelos Ventos no Cumbe - Autor: João Luís Joventino do Nascimento/João do Cumbe - 15/06/2010


Caro amigo leitor

Peço um pouco de atenção

Para ouvir esta história

De cortar o coração

A briga pelos ventos

Na nossa região

 

Aqui eles chegaram

Com muita educação

Prometendo muita coisa

E melhorar a situação

Do povo do Cumbe

E de toda região

 

O povo acreditou

Em tudo que prometeu

Queria emprego e renda

Mais não foi que aconteceu

Surgiram vários problemas

Cada um do jeito seu

 

Alugaram logo as casas

Para primeiro impressionar

Com valores bem altos

Para ninguém questionar

Que o projeto era bom

E só queria ajudar

 

O povo foi a procura

De trabalho na PETRA

TOMÉ e SUCESSO

Mais sem encontrar

Tiveram que fechar a estrada

Para conseguir trabalhar

 

A coisa foi mudando

Na nossa comunidade

Muita gente reclamando

Das próprias autoridades

Que não faziam nada

Para mudar a realidade

 

Acabou nosso sossego

Tiraram a tranquilidade

Poeira, caçamba e lama

Era a realidade

Desse projeto eólico

Que vinha da cidade

 

Começou o destroço

Por toda comunidade

Rachaduras nas casas

Acabando com a tranquilidade

Vieram outros problemas

Do povo da cidade

 

Começamos a questionar

Esta cruel situação

Sem entender de verdade

A grande dimensão

Desse projeto eólico

Na nossa região

 

Estradas foram abertas

Para as máquinas chegar

Trazendo equipamentos

Mudando nosso lugar

Era o tal do progresso

Que vinha para ficar

 

Teve até audiência

Para o povo falar

A mentira foi tão grande

Que dava para chorar

O povo batia palma

Entregando nosso lugar

 

Vieram várias pessoas

Para se solidarizar

Com o povo do Cumbe

Que estava a questionar

As promessas eram tantas

Que dava pra desconfiar

 

A prefeitura chegou

Mostrando disposição

De implantar o parque

Em nossa região

Os lucros são tantos

Para o prefeito e patrão

 

Prometeram emprego

Para toda população

De construir a estrada

E melhorar a educação

Até hoje só comemos

Poeira de caminhão

 

Para conseguir trabalho

Foi feita manifestação

Fecharam a estrada

Várias vezes de montão

E o povo reclamando

Desta cruel situação

 

Mas tem na comunidade

A turma da situação

Que tudo está bom

Para que reclamação?

O parque vai ser bom

Para nossa população

 

Andar na estrada

Tem que ter atenção

Os carros são velozes

E não respeita, não

Acabou a tranquilidade

E a nossa paz então

 

Os canos d’água quebrados

Pela movimentação

De máquinas e carros

Para tal construção

Do parque eólico

Que vale um dinheirão

 

Até a Igreja Católica

Vem sofrendo agressão

As dunas desmontadas

Para tal instalação

Ninguém faz nada

Virou banalização

 

A empresa contratou

A via de comunicação

Que saia de casa em casa

Ouvindo reclamação

Mas queria enganar

Toda a população

 

Só fazia festa

Para nos impressionar

Traziam até palhaço

Tentando nos calar

A empresa só quer o bem

Do povo deste lugar

 

Tinha picolé de graça

Para todos do lugar

Bolo, sanduíche e refrigerante

Tentando nos comprar

Esta é a (re)colonização

Que acabava de chegar

 

Coisa boa nunca vi

Só tenho que lamentar

Que apagaram com as dunas

Do litoral do Ceará

Para produzir energia

Que ninguém vai usar

 

Ainda tem o discurso

Na sua instalação

É uma energia “LIMPA”!

Para nossa região

Logo em cima das dunas

Protegida pela constituição

 

As dunas guardam

Tesouros da nação

Seus Sítios Arqueológicos

Comprovam a civilização

Que habitou estas áreas

Primeira da região

 

Mais nada foi feito

Pelas nossas autoridades

Que queriam a todo custo

Acabar com a verdade

Que os Sítios são Patrimônios

De toda a sociedade

 

O IPHAN nada fez

Para proteger a história

Dos nossos antepassados

Presentes na memória

Deu toda autorização

Acabando em vitória

 

Sítios foram destruídos

Para a obra acontecer

Este é o projeto

Do governo do PT

Acabar com a cultura

É deixar o povo morrer

 

Trouxeram arqueólogos

Para fazer o salvamento

Dos Sítios Arqueológicos

Sem nenhum entendimento

Que levaria vários anos

Para produzir conhecimento

 

Mais tudo no Brasil

É na base do dinheiro

Sítios não tem valor

Nem o povo brasileiro

Basta ver o que acontece

Por esse país inteiro

 

Tiraram nosso lazer

E a nossa liberdade

Em nome de um progresso

Que só nos traz maldade

Destruir nossa cultura

É promover desigualdade

 

O governo está feliz

Com seu projeto capitalista

Destruir a natureza

Para os países neoliberalista

Sem se preocupar com o povo

Implantar ideias elitistas

 

Mais no mês de setembro

Depois da independência

O povo deu seu recado

Com muita coerência

Pedindo uma solução

E uma imediata providência

 

Paramos a obra

Por dezenove dias

Exigimos respeito

E uma outra saída

Para que nossas vidas

Não sejam destruídas

 

Com a estrada fechada

E a obra parada

Demos conhecimento ao povo

Dessa nova jogada

Por isso ficamos

Vigiando de madrugada

 

A lama e a poeira

E as casas rachadas

Foi o que o povo ganhou

Desta obra mal acabada

Que acaba com tudo

Até com a estrada

 

Os sítios arqueológicos

Patrimônio da nação

Foram os que mais sofreram

Com essa instalação

Dos parques eólicos

Da bons ventos na região

 

Neles são encontrados

Diversas informações

Do povo que habitou

Toda a nossa região

Do vele do Jaguaribe

Foi a primeira ocupação

 

Machados de pedras

Cachimbos de barros

Foram esse os objetos

Nos Sítios encontrados

Além de muitos outros

Que precisam ser pesquisados

 

O Cumbe então se tornaria

Um grande museu aberto

Fonte de muitas pesquisas

Tombado como certo

Tornando-se o pioneiro

No Ceará de um projeto

 

Hoje essa situação

Está difícil de acabar

Levaram todo o material

Para fora do Ceará

Queremos a nossa história

De volta para o lugar

 

Queremos um museu

No Cumbe para guardar

Todo esse material

Que está fora do Ceará

É o que deve ser feito

Para a história não acabar

 

Bons ventos e prefeitura

Chega de nos enrolar

Construa esse museu

Primeiro do Ceará

Símbolo da resistência

Do povo deste lugar

 

Pedimos o apoio

De toda população

De sensibilizar as autoridades

Da nossa região

De que este museu

É a grande solução

 

Aracati vai ganhar

Com a educação

De preservar esse patrimônio

Para toda população

Fonte de pesquisa

Para toda região

 

IPHAN e SECULT

Queremos determinação

Para que este museu

Não saia daqui, não

O Cumbe merece

Toda essa contribuição

 

Temos muitos amigos

Que podem contribuir

Nesse fabuloso projeto

Do povo do Cumbe

Para que esse museu

Seja construído aqui

 

As descobertas nas dunas

Não foram de agora, não

Desde os anos noventa

Em nossa região

Diversas pessoas

Deram sua contribuição

 

Aqui várias pessoas

Por intermédio do João

Contribuíram com a pesquisa

Trazendo informação

De que no Cumbe haveria

Sambaqui de montão

 

Foram vários os caminhos

Para essa conclusão

De que as dunas do Cumbe

Guardam informação

De um passado distante

Da primeira ocupação

 

No ano de 2004

Quando tudo começou

Uma pesquisa de campo

Por diversos professores

Visitaram as dunas

Para ver seu valor

 

Após as visitas

Puderam comprovar

Que realmente no Cumbe

No estado do Ceará

Tem sambaqui

Para todos estudar

 

Entrei em contato

Com a universidade do Ceará

Departamento de história

Para me orientar

A proteger esse patrimônio

Da cultura popular

 

Mais graças a Verônica

Na sua pesquisa disciplinar

Inviabilizou a obra

No litoral do Ceará

Aqui existe um tesouro

Nunca visto noutro lugar

 

Diversos Sítios Arqueológicos

Encontrados neste lugar

Importante patrimônio

Do povo do Ceará

Deve ser preservado

Para a história contar

 

A empresa não gostou

Do resultado da pesquisa

Contratou outro arqueólogo

Para a pesquisa ser positiva

Acabando de uma vez

Com os Sítios a vista

 

O IPHAN concordou

Com a instalação do projeto

Atendendo ao pedido

Dos empresários por certo

Desobedecendo a lei

Acabando com o protesto

 

A luta contínua

Não devemos desanimar

Esse tipo de projeto

Não serve para o lugar

Produzir energia “LIMPA”!

Para os empresários ganhar

 

Essa energia “LIMPA”!

Nós não vamos usar

Utilizaram nosso dinheiro

Para nos expulsar

Das nossas comunidades

Do litoral do Ceará

 

Esse é o projeto

Para nossa comunidade

Destruir nossa cultura

Tirar nossa liberdade

Acabar com o povo

Pobre da sociedade

 

Este é o progresso

Que chega para nós

Destruir nossas vidas

Tirar nossa voz

Privatizar nossas áreas

Deixando-nos feroz

 

O desenvolvimento implantado

Em todo o litoral

Só trás destruição

Consequências do mal

Parece brincadeira

Do governo estadual

 

Racismo Ambiental

É o que está acontecendo

Com as nossas comunidades

Está todo mundo vendo

A grande falta de respeito

Sem nenhum conhecimento

 

Todo esse projeto

É um modelo de opressão

Que favorece a poucos

Deixando o povo na mão

Cada vez mais pobre

Desta globalização

 

Falta política pública

Para a população

Os nossos governantes

Não mudam a situação

Só querem desviar recursos

Favorecer o patrão

 

Vou ficando por aqui

Agradeço sua atenção

Denunciar as injustiças

É promover libertação

 



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