Cartilha reúne saberes de quilombo ameaçado por empreendimentos predatórios no Ceará
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Cartilha reúne saberes de quilombo ameaçado por empreendimentos predatórios no Ceará

— Flávia Almeida/CBJC
8 de junho de 2025
O Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC), em parceria com o Quilombo do Cumbe (Aracati-CE) e o Aurora Lab, lançou a cartilha “Se não agora, quando? Se não nós, quem seria? Quilombolas do Cumbe na confluência dos sonhos”.
A publicação é um convite à escuta e à ação coletiva, reunindo experiências, desenhos, afetos e saberes dos moradores das 102 famílias quilombolas que atuam em torno da defesa do território, modos de vida e da justiça climática.
Com ilustrações produzidas pelos próprios quilombolas e reflexões baseadas em vivências no território, a cartilha registra a resistência cotidiana da comunidade frente ao avanço de projetos de transição energética excludentes, como a instalação de 67 aerogeradores e fazendas de carcinicultura (criação de camarões em cativeiro) sobre dunas, manguezais e áreas pesqueiras.
Esses empreendimentos ameaçam o ecossistema local e as práticas tradicionais de pesca artesanal e mariscagem — pilares da soberania alimentar e da cultura quilombola.
Do lado leste, aerogeradores ocupam as dunas. Do lado oeste, tanques de camarão degradam os mangues. Essas atividades comprometem o meio ambiente, a saúde e o modo de vida da comunidade.
Em resposta, os quilombolas fundaram, em 2003, a Associação Quilombola do Cumbe, um espaço de articulação política, cultural e ambiental. Desde então, iniciativas como trilhas ecológicas, passeios de barco e atividades culturais têm fortalecido a identidade quilombola e reafirmado o protagonismo da comunidade na defesa de seu território.
“A história do Cumbe não é sobre perdas, é sobre conquistas. Cada luta é um ato de amor pelo território, pela vida e pelo futuro. Eles nos ensinam que o bem viver é uma escolha coletiva, que só é possível com justiça climática e equidade racial”, afirma Taynara Gomes, coordenadora de pesquisa e dados do CBJC.
Por que essa história precisa ser contada?
Reconhecido pela Fundação Cultural Palmares desde 2014, o Quilombo do Cumbe abriga cerca de 800 pessoas que vivem da pesca, agricultura familiar, mariscagem e turismo comunitário. Localizado entre o rio Jaguaribe e as dunas do litoral leste do Ceará, o Cumbe abriga mais de 11 hectares de manguezal, um dos maiores remanescentes do estado —
patrimônio ambiental e cultural em constante risco.
Nos últimos anos, o território tem sido pressionado por projetos econômicos que desconsideram os direitos das comunidades tradicionais. O processo é marcado pelo racismo ambiental, incluindo a destruição de espaços sagrados como o cemitério centenário da comunidade.
A cartilha está disponível para download aqui.
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