AJD visita a Comunidade Quilombola do Cumbe em Aracati-CE

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AJD visita a Comunidade Quilombola do Cumbe em Aracati-CE

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O segundo dia de programação do Encontro Nacional da AJD foi marcado por uma visita à Comunidade Quilombola do Cumbe, situada no município do Aracati, litoral leste do Ceará. Certificada pela Fundação Cultural Palmares em dezembro de 2014, o povo do Cumbe é formado por maioria negra/quilombola, composta de 168 famílias, destas 100 se autodefinem como quilombolas cuja maior parte são pescadores/as do mangue, agricultores/as, artesãos/ãs e demais ofícios que guardam uma relação com seu território tradicional (Manguezais, carnaubais, dunas, gamboas, rio e o mar) seu principal meio de vida.

Antes de se chamar Associação Quilombola do Cumbe/Aracati – CE, a comunidade se organiza através da Associação de Pescadores/as, Marisqueiras, Artesões e Moradores/as do Cumbe. Somente a partir do ano de 2012 é que a entidade passou a ter CNPJ próprio. Como estratégias de luta a Associação Quilombola do Cumbe realiza durante o ano atividades como Bloco de carnaval “Karambolas do Cumbe”, na Semana Santa - sábado de aleluia - a "Queima de Judas", "leitura do testamento" e o "Pau de Sebo", o “Arraiá do Manguezá” no mês de junho, a “semana em defesa dos manguezais” no dia 26 de julho, a “Festa do Mangue do Cumbe” em outubro, o “Dia da Consciência Negra” em novembro e o “Dia do Quilombo” em dezembro, data da certificação da comunidade pela Fundação Cultural Palmares. Todas essas atividades têm como propósito visibilizar e fortalecer as lutas e as resistências travadas pelos quilombolas pescadores/as do mangue, denunciando as injustiças ambientais e violações de direitos.

A comunidade também está integrada à Rede Cearense de Turismo Comunitário - REDE TUCUM. No plano local, o grupo faz parte da Organização Popular do Aracati (OPA); em nível estadual do Movimento de Pescadores/as Artesanais (MPP), Movimento Quilombola do Ceará (CEQUIRCE); e a nível nacional da Articulação Nacional de Quilombos (ANQ) e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA).

Recepção na comunidade

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João do Cumbe fala para associados e associadas da AJD

Os membros e membras da AJD rumaram de Fortaleza para Aracati bem cedo, o propósito era aproveitar bastante o dia, interagindo com a comunidade do Cumbe. Ao chegar no local, a comitiva foi recebida pela presidenta do quilombo, Cleomar Ribeiro da Rocha, João do Cumbe e Seu Dedé. Em seus depoimentos ficou marcado o histórico de pserguição que os quilombolas vivem por lutarem pela legalização de seu território. “Temos que resistir para existir. É essa a luta do cotidiano, pra gente garantir viver num território e ter esse espaço, essa dignidade, porque eu acho que os quilombos foram formados disso, de pessoas que vieram na luta da sua liberdade e da sua dignidade. Acho que a ideia é essa. É cada vez mais a gente estar fortalecido”, afirmou Cleomar.

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Cleomar Ribeiro da Rocha, presidenta da Associação Quilombola do Cumbe

Uma matéria do veículo Brasil de Fato, de janeiro de 2020, revelou que a ameaça de instalação de um resort libanês na região deixou os moradores em maior estado de alerta. Problemas como esse se tornaram rotina na vida dos quilombolas locais. A comunidade do Cumbe é alvo de um confronto permanente que envolve uma usina eólica, empresas de carcinicultura (Criação de camarões em cativeiro) e atores políticos da região. A disputa por território é um drama comum a todas as comunidades tradicionais e quilombolas do país. 

Com relação ao cultivo de camarões em cativeiro, as empresas do ramo chegaram na região durante a década de 1990, os efeitos desta atividade trouxeram grande desequilíbrio ambiental à localidade. O despejo frequente de produtos químicos nos aquíferos contaminou o lençol freático, salinizando a água e desestabilizando o meio ambiente, modificando o solo e paisagem. A carcinicultura também impactou a coleta de caranguejos. Os quilombolas relatam que há pouco mais de 20 anos, um catador conseguia pegar entre 300 a 400 caranguejos por dia. Atualmente, com muito trabalho, se colhe no máximo 150. 

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O aspecto enlameado, característico dos manguezais, tem dado lugar a uma vegetação típica do cerrado: solo árido, paisagem inteiramente acinzentada, sem verde.

A comunidade quilombola do Cumbe ainda luta pela sua regularização fundiária – identificação, demarcação e titulação do território quilombola. No entanto, o estudo sobre a delimitação da área, realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), está paralisado desde 2015. Há também toda uma mobilização para que a Prefeitura da Aracati fiscalize melhor as empresas de carcinicultura e de energia eólica que montaram suas estruturas em Áreas de Proteção Permanente (APP) e em Áreas de Proteção Ambiental (APA). 

Apesar das lutas vividas, os quilombolas também ensinaram muito sobre suas origens e o modo de viver da terra, administrando uma relação harmônica entre o que ela dá e o que é necessário. 

Ao fim da tarde, a comitiva da AJD realizou um passeio de barco até a foz do Rio Jaguaribe. Em seguida, puderam desfrutar da vida noturna de Canoa Quebrada. 

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Saída para o passeio de barco até a foz do Rio Jaguaribe

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