A luta do Cumbe

A luta do Cumbe


Por Rodrigo de Medeiros



O Cumbe, comunidade do Município de Aracati-CE, tão rico em cultura, como rico em violações. As sociedades cearense e brasileira devem olhar para esta pequena comunidade do litoral cearense. Nela poderão se vê as suas origens, poderão se vê os seus descasos, os seus desmandos, os caminhos que escolhe para o desenvolvimento de poucos e a invisibilidade ou aniquilação de muitos.

Comecemos pelo nome que é de origem africana e que pode dar luz a sua identidade. O Professor de História da Comunidade, João do Cumbe, também fala da expedição científica de Dom Pedro II, que passou pela localidade e registrou com admiração os cata-ventos, os moinhos de vento em grande quantidade, para irrigar os canaviais dos diversos engenhos que havia na região. Cumbe terra que mantém o Sebastianismo, em relatos de lavadeiras nas lagoas entre as dunas, que ouvem a cavalaria, com seus tambores, do Rei Dom Sebastião, com alguns até chegando a ver o próprio Rei. O Cumbe de calungas, fantoches para a meninada. O mesmo Cumbe de histórias de espíritos e de sítio arqueológico milenar...

Sítio arqueológico que empresa de energia eólica e o governo do PAC quiseram desdenhar, frente ao “desenvolvimento”. Se não fosse a grita da comunidade e dos parceiros da sociedade civil organizada, não estaria hoje o IPHAN trazendo museu para o local. Energia eólica, a energia limpa que, pasmem, ameaça impedir a comunidade de ter acesso a sua praia e as seguintes lagoas: Lagoa do Murici, Lagoa do Capim (do Pituca), Lagoa da Lucrécia, Lagoa da Maria do Vale, Lagoa do Zé Tarcísio, Lagoa do Padre, Lagoa do Manoel de Pedro Chico e Lagoa do Urubu.

Comunidade do Cumbe já tão sofrida com a carcinicultura (criação de camarão), que destrói seus manguezais, destrói seu modo de vida por promessas de “desenvolvimento”, de empregos que nunca vêm. Apenas, como sempre, vem o prejuízo da sustentabilidade das famílias. A carcinicultura defendida pelo Tribunal de Justiça, em decisão recente, por proteger estes poucos empregos, sem ver o tamanho do passivo deixado. Carcinicultura cujo fazendeiro tenta impedir o acesso da comunidade do Cumbe ao seu cemitério secular, insultando a sua memória, desrespeitando a sua cultura.

Mas este Cumbe, que sofre com tantas mazelas, a partir da privação do coletivo, da concentração de terra e poder, é o mesmo Cumbe que, a partir de seu coletivo, mostra que resiste, que segue em frente. Assim, quisemos, aqui, compartilhar um pouco do que sofre o Cumbe, mas, principalmente, da força cultural, da força da comunidade que deve fazer despertar ações que colaborem com o real bem estar das pessoas do local, escolhas referenciadas na vida comunitária.


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