Energia Limpa

“ENERGIA LIMPA” PROVOCA MAIS PROTESTOS EM COMUNIDADE LITORÂNEA NO CEARÁ

Desde o dia 8 deste mês, cerca de 200 pessoas das comunidades Cumbe e Canavieira (Aracati-CE, a 182km de Fortaleza) bloqueiam a estrada que cruza a localidade e que é a única via de acesso da empresa BONS VENTOS GERADORA DE ENERGIA EÓLICA S/A ao canteiro de obras do maior (com 67 aerogeradores) dos três parques de energia eólica em instalação no município.
A obra, que chega às cifras dos R$ 800 milhões faz parte do PAC, tem causado incontáveis transtornos às famílias ali residentes. Os danos afetam desde a infra-estrutura (rachamento de casas, igreja e colégio), passando pela destruição de parque arqueológico e dunas naturais, até atingir a integridade física e mental dos moradores.
O tráfego constante de veículos pesados, inclusive nos momentos de descanso da madrugada, é acompanhado por uma severa produção de ruídos, além de formar uma sempre presente nuvem de poeira, causadora de inúmeros problemas respiratórios.
“Todas as vezes que um carro pesado passa, meu filho me abraça gritando ‘a casa vai cair.’ Só saiu daqui com a estrada garantida.” Fala-nos indignadamente Luís Lamaia, morador nativo da comunidade de Canavieira.
As comunidades do Cumbe e Canavieira são formadas por 200 famílias de catadores de caranguejos, marisqueiras, artesãos e agricultores. Elas ficam à margem direita do rio Jaguaribe, circundadas por manguezais, carnaubais, campo de dunas móveis e fixas, lagoas interdunares, diversos sítios arqueológicos, praia e gamboas. Na década de 1990 foi a carcinicultura – criação de camarão em cativeiro – que destruiu diversas áreas de manguezais, comprometendo a segurança alimentar da comunidade. Passados dez anos, chega a vez da energia eólica, com discurso de energia limpa e prática extremamente suja.
O sítio arqueológico, destruido por trabalhos de terraplanagem e pisoteado pelas torres de vento, é o maior do Ceará, remontando de 5 a 10 mil anos atrás. As lagoas de água cristalina, entre as dunas, formadas pelas águas das chuvas, estão sendo soterradas. Ambas as questões estão sendo retratadas na pauta reivindicatória. As comunidades cobram urgentemente uma posição do poder público.
Na audiência do dia 15/9, com a Prefeitura Municipal, Governo do Estado e a empresa BONS VENTOS GERADORA DE ENERGIA EÓLICA S/A, muita promessa e pouca coisa concreta. Fala parecida com aquelas que provocaram as três interdições anteriores, só nesse ano. Em virtude disso, as famílias mobilizadas decidiram permanecer acampadas até que resultados concretos sejam obtidos.
Nesta luta de Davi contra Golias, os “Davis” parecem bastante determinados e convictos de seus direitos.
Maiores informações liguem para o número (85) 9624 2107,
Falar com João Luís morador do Cumbe.

Thales Sá Leitão e Tiago Pereira – MST/CE

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