Parque eólico causa problemas ambientais e sociais em Aracati, segundo moradores

Moradores estão insatisfeitos com os impactos causados após construção de parque eólico

*Hayanne Narlla e Roberta Tavares
Após o início da construção de um parque eólico, para a produção de energia limpa, os moradores de Aracati, a 150 quilômetros de Fortaleza, reclamam dos impactos sociais e ambientais. Segundo o mestrando João do Nascimento, da comunidade do Cumbe, no município, o que está acontecendo no local é “outra recolonização”, semelhante a que aconteceu na época do descobrimento do Brasil.
Ele conta que, desde 2008, quando o parque começou a ser instalado, as empresas chegaram com o “mesmo discurso, prometendo desenvolvimento, progresso, geração de renda”. “Nós moramos em comunidades atrasadas para eles. E eles são a salvação, incluindo a gente nesse projeto. Inicialmente a comunidade aceitou, e a partir da instalação foi que vieram surgir problemas”.
Outro morador do Cumbe, Ivo Rodrigues, desabafa que a instalação do parque eólico no município prejudicou a vida da comunidade. “Quando ainda estava em processo de instalação, diversas caçambas transitavam na nossa região em alta velocidade. Fizemos uma manifestação e conseguimos paralisar as obras deles por 19 dias”, conta.
Além disso, João afirma que, por não terem estradas com infraestrutura, o peso dos veículos e suas cargas causaram rachaduras nas casas, além de quebrar canos de água. Além disso, ele reclama de que a tranquilidade acabou e, agora, há muita poeira.
Ainda segundo João, houve problemas de exploração sexual na comunidade. “Você imagina uma comunidade de 600 pessoas se deparar com 1.500 transitando? Os peões de fora chegam e isso causa [alvoroço] nas jovens. Elas têm relação com eles… Há meninas que ficaram grávidas e não sabem quem é o pai, por causa da rotatividade dos funcionários”, explica.
Outro problema foi em relação às promessas de trabalho. “Prometeram trabalho, disseram que a comunidade toda seria inserida. Aí o trabalho destinado é o pior, o que ninguém quer fazer, com duração de quatro meses, apenas”, diz João.
Com o parque já instalado, os problemas se tornaram maiores. Segundo Ivo, o acesso às lagoas e às praias foram proibidos. “Eles construíram os aerogeradores em um manancial de lagoas. Se a gente tentar tomar banho de lagoa, os responsáveis pelo parque dizem que a gente pode ser eletrocutado. Considero isso uma estratégia de privatização”, afirma.
Resposta a favor
De acordo com o presidente da Câmara Setorial de Energia da Agência do Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Adão Linhares, os parques eólicos são licenciados previamente e há uma audiência pública com o Conselho Estadual do Meio Ambiente. Dessa forma, ele explica, que há um cuidado para a aprovação de um projeto, sendo considerado os impactos nas áreas escolhidas.
Ele afirma que há um parque eólico há 14 anos na Prainha, em Aquiraz. “Se for ver os estudos e estudos técnicos da UFC e da Superintendência do Meio Ambiente falam sobre as implicações ao meio ambiente, às dunas, ao lençol freático… fatos comprovados. O lençol freático, visto antes e depois, não teve implicação negativa”.
Ele ainda questiona sobre as acusações realizadas, sem estudo que comprovem. “A energia eólica é inquestionável. O vento nunca vai acabar. Se existe algum erro que feriu a lei, como fazer barragem em determinado rio e secar a lagoa, o dano foi causado pela investidora e não pela energia eólica”, ressalta.
Sobre empresas
Em nota oficial, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), informou que a empresa responsável no município de Aracati, Rosa dos Ventos Geração e Comercialização de Energia S/A, possui licença para atuar na região. Além disso, informou que a licença teve validade vencida em 27 de setembro de 2012 e a renovação ainda esta em análise.
Além disso, sobre o empreendimento, Bons Ventos Geradora de Energia S/A , localizado na localidade de Cumbe, “informamos que o mesmo possui a Renovação da Licença de Operação de N° 79/2013 DICOP/GECON, expedida em 01/04/2013 com validade até 31/03/2017”.
Confira as imagens enviadas por João, desde o início da construção do parque

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