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O Quilombo do Cumbe

O Cumbe [Aracati, Brasil] é uma comunidade onde tudo é farto. Sobra comida, água, amor, luta e receptividade aos visitantes bem-vindos. Transborda resistência lá. A comunidade, última à margem direita da foz do rio Jaguaribe, se localiza numa região riquíssima do ponto de vista ambiental, em um ponto de encontro do rio com o mar, uma área de mangue onde tudo dá: caranguejos, ostras, sururu, peixes, mariscos etc. Os capitalistas cearenses e de outros países e os potentados locais de Aracati (políticos, prefeitos, delegados, empresários da carcinicultura, investidores em energia eólica, especuladores da indústria imobiliária no litoral) querem, a todo custo, tomar o Cumbe dos seus moradores, expulsá-los de sua terra tradicionalmente ocupada há mais de um século. O interesse inconfessável dos capitalistas com este belíssimo lugar é inseri-lo definitivamente nas rotas de circulação de mercadorias. A luta que se desdobra no Cumbe há décadas, se coloca contra a destruição das dunas - fontes naturais de armazenamento e filtragem de água - pelas empresas de energia eólica, contra as fazendas de camarão, que desviam o curso do rio, poluem a água e privatizam o acesso ao rio e ao mangue, fontes de alimentos a todos os moradores da comunidade; e a luta é em favor do acesso à praia, ao rio, ao mar, à terra, aos alimentos que no rio nascem e da terra brotam, assim como em defesa dos lugares sagrados, roubados da comunidade quando se instalaram os parques de energia eólica na região; a luta é pela manutenção das bases de sustentação da vida de quem mora no Cumbe e pela preservação de um modo de vida que contrasta com a lógica das relações sociais mediadas pelo dinheiro no mundo capitalista. Lugar que outrora foi um quilombo, o Sítio Cumbe reúne em suas camadas de memória social - e isso é lembrado e compartilhado pela população do lugar, marcadamente uma comunidade remanescente quilombola -, uma história de resistência secular. Conta a memória dos que vivem na comunidade que o Cumbe se constituiu ao longo do tempo pela ação de escravos fugidos de engenhos da região, desde o período de vigência da escravidão no Brasil. A palavra Cumbe, inclusive, significa "quilombo", em Africâner.

Pedro do Fogo
Curtir ·  ·  · há 17 horas em Aracati · Editado · 

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